A inteligência artificial e os desafios macroeconômicos que se apresentam

Partindo da observação do que ocorreu com a introdução de inovações tecnológicas anteriores é possível identificar as implicações na economia e o que deve ser feito para diminuir as consequências da disrupção tecnológica.
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Equipe Propague
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Sem dúvida, a inteligência artificial é uma das tecnologias mais impactantes da atualidade. Diante dos ganhos potenciais de eficiência e produtividade fica fácil explicar tamanha atenção que ela atraiu, especialmente na esteira do desenvolvimento de soluções robustas como o ChatGPT.

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Entretanto, como com qualquer tecnologia emergente que ganha escala rapidamente, há desafios macroeconômicos associados a ela. Assim como aconteceu com outras inovações tecnológicas ao longo da história, impactos em desemprego e desigualdade, por exemplo, são comuns, causando elevada preocupação de economistas e governos.

Quadro emoldurado ainda por uma série de implicações monetárias, que tendem a afetar o sistema financeiro, a começar pelos bancos centrais, alerta Julian Jacobs, economista sênior do OMFIF (sigla em inglês para Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), em seu mais recente artigo publicado na plataforma.

Cada choque tecnológico de grande escala coincidiu com um crescimento significativo da desigualdade e um período de intenso deslocamento e ruptura, disse Jacobs. Nesse sentido, argumenta, os formuladores de políticas e economistas têm como garantir agora que isso não aconteça novamente.

A preocupação com o fim do trabalho

Lançando um olhar sobre as revoluções tecnológicas anteriores, principalmente a revolução industrial e a transformação tecnológica do início do século XX, a exemplo das ferrovias, Jacobs recorda que os dois períodos coincidiram com um crescimento significativo da produtividade do trabalho.

Consequentemente, emenda, ambos impulsionaram o crescimento e a qualidade de vida das gerações seguintes, embora esses dois momentos tenham sido repletos de discursos contemporâneos que se preocupavam com a extinção do trabalho e a perspectiva de desemprego generalizado por conta das novas máquinas.

Contudo, ao contrário do que se imaginava, ambas as grandes revoluções tecnológicas não levaram ao desemprego em massa. Ao mesmo tempo, expõe, os ganhos de eficiência permitiram às famílias poupar dinheiro devido aos custos mais baixos que surgiram de indústrias mais eficientes (agricultura, por exemplo), o que levou à criação de novas ocupações.

Portanto, ele argumenta que não há evidências que sugiram que a economia da inteligência artificial seja substancialmente diferente daquela das tecnologias anteriores.

Além disso, a inteligência artificial promete expandir muito o escopo de quais ocupações podem se tornar digitais, o que pode aumentar a produtividade e encorajar uma realocação de mão de obra para novas indústrias ou atividades, que são melhor executadas por humanos.

Disrupção tecnológica e aumento da desigualdade

Entretanto, Jacobs adverte que não se pode descartar as implicações da disrupção tecnológica. Segundo ele, uma análise econômica mais contemporânea revelou que os padrões de vida de muitos britânicos das classes média e trabalhadora diminuíram substancialmente durante a revolução industrial.

Em vez de melhorar esses padrões, os ganhos de produtividade incentivados pela tecnologia levaram à desvalorização do trabalho, muitas vezes acompanhando a piora das condições, a queda de participação deste na renda, o acúmulo de riqueza entre os donos do capital e o consequente aumento da desigualdade econômica.

A mesma coisa se sucedeu com o choque tecnológico do século XX e o início da informatização. Ou seja, coincidiram com deteriorações semelhantes nos meios de subsistência dos trabalhadores e crescimento intolerável da desigualdade.

Para Jacobs, citando os economistas David Autor, Claudia Goldin e Daron Acemoglu, o que aconteceu foi um processo de mudança tecnológica com viés de qualificação, em que os choques tecnológicos deslocaram principalmente os trabalhadores de qualificação intermediária e levaram ao crescimento da parcela de mão de obra de baixa e alta remuneração.

Isso se explica porque os empregos de salário médio costumam surgir mais lentamente e são mais desejáveis para as empresas automatizarem.

Além disso, quando ocorrem choques tecnológicos, os trabalhadores tendem a achar que seu trabalho é desvalorizado e aqueles que são capazes de trabalhar com as tecnologias emergentes a receber bônus salariais.

Por outro lado, aqueles cujas tarefas podem ser totalmente ou parcialmente substituídas pelas máquinas observam estagnação salarial e muitas vezes queda na remuneração real.

Assim, conclui, existem evidências iniciais de que a inteligência artificial estimula essa dinâmica, elevando a desigualdade, o que deve ser uma preocupação de todos, afinal, isso seria socialmente e politicamente desastroso para o crescimento econômico de longo prazo e a estabilidade financeira, enquanto os temores de desemprego são equivocados.

Inteligência artificial e o papel dos bancos centrais para lidar com as transformações

Na avaliação de Jacobs, diante do cenário que se apresenta, os desafios macroeconômicos para os bancos centrais serão preservar uma economia saudável em meio às distorções dos mercados de trabalho que coincidem com o avanço da inteligência artificial.

Enquanto os benefícios da inteligência artificial amplamente implantada são potencialmente significativos, assumindo a forma de maior crescimento da produtividade após décadas de lentidão, afirma, a economia dessa tecnologia indica uma curva inequivocamente desigual, que tem implicações sobre como a política monetária deve avaliar a saúde econômica dos países, as deliberações sobre as taxas de juros e a vulnerabilidade das famílias da classe média e trabalhadora.

 

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