Nos últimos anos, a desdolarização da economia internacional começou a aparecer cada vez com mais frequência nas mídias globais, portais de notícias e blogs. Esse interesse foi impulsionado por alguns acontecimentos como, por exemplo, as sanções contra o sistema financeiro da Rússia que passou a buscar alternativas, seja integrando o CPIS chinês ou buscando uma nova moeda para fazer comércio.
Além disso, já há algum tempo, a China vem empreendendo esforços para impulsionar o uso do yuan (moeda chinesa, também conhecida como renminbi) como nova moeda internacional, seja para transações comerciais ou para reserva de valor. Assim, diversos países elevaram a cota de yuan nas suas reservas internacionais e passaram a utilizá-lo para liquidar transações transfronteiriças.
Nesse sentido, o Brasil e a China se aproximaram nos últimos meses na direção de ampliar o uso do yuan como moeda para o comércio entre os dois países. No início fevereiro, por exemplo, o Banco Central do Brasil foi notícia devido a assinatura de um memorando para estabelecer acordos de compensação de yuan com o Banco Popular da China (PBOC).
Brasil e China avançam para usar yuan como nova moeda em liquidações bilaterais
Esse acordo previa que o Banco Central da China indicasse uma instituição autorizada a operar em câmbio no Brasil para atuar como uma “offshore clearing bank”. Assim, durante a visita de autoridades brasileira, a China autorizou a subsidiária brasileira do ICBC (Industrial and Commercial Bank of China, ou Banco Industrial e Comercial da China, em português) a fazer a compensação direta de yuans para real.
Inclusive, o Banco noticiou no dia 12 de abril de 2023 que realizou com sucesso a primeira transação transfronteiriça com yuan. Ademais, no meio desse cenário, o sino-brasileiro Bank of Communications BBM (Bocom BBM) se tornou a primeira instituição credenciada a operar, no Brasil a plataforma de pagamentos China Interbank Payment System (Cips).
O banco projeta para julho de 2023 o início da compensação de operações entre Brasil e China sem o uso do dólar, possibilitando que empresas dos dois países liquidem negócios com o uso do real e do yuan, sem a necessidade de câmbio em dólar.
Esse acordo foi assinado durante missão de autoridades na China, tornando o Brasil o primeiro país da América Latina a ter acesso ao sistema chinês.
Yuan se tornou segunda moeda mais importante nas reservas internacionais do Brasil
É importante lembrar que, atualmente, o yuan ultrapassou o euro e se tornou a nova moeda a ocupar o segundo lugar na composição das reservas internacionais brasileiras, de acordo com um relatório do Banco Central divulgado no fim de março.
Com isso, as reservas brasileiras passaram a ser compostas por 80,42% em dólar norte-americano (USD), 5,37% em yuan (CNY), 4,74% em euro (EUR), 3,15% em libra esterlina (GBP), 2,52% em ouro, 1,86% em iene (JPY), 1,01% de outras moedas.
Esse movimento é um reflexo do aprofundamento dos laços econômicos do Brasil com seu maior parceiro comercial. Afinal, a gestão das reservas internacionais é feita de modo a reduzir a exposição do país ao risco cambial, definindo-se uma carteira diversificada com perfil anticíclico e que busque a cobertura cambial da dívida externa.
Assim, o yuan está se fortalecendo no cenário internacional como a nova moeda alternativa ao dólar. Outras iniciativas, entretanto, também podem servir como alternativa sem necessariamente envolver o uso de yuan, como, por exemplo, a criação de uma moeda para o .
BRICS estuda implementar nova moeda
A possibilidade de uma nova moeda dos BRICS, grupo econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, surgiu pela primeira vez em junho de 2022, por meio de uma declaração do presidente russo Vladimir Putin. Agora, o grupo confirmou que deve apresentar em agosto de 2023 uma proposta de emissão de uma moeda comum.
As nações que compõem o BRICS sustentam que a dependência do dólar americano deixa suas economias expostas às políticas dos Estados Unidos e prejudica as relações comerciais entre os países. Além disso, os BRICS defendem a adoção de CBDCs entre os integrantes do grupo, como uma forma de diminuir custos e aprimorar a eficiência dos pagamentos transfronteiriços.
Apesar desses esforços, a dólar ainda é “de longe” a moeda mais utilizada e mais importante no sistema financeiro internacional. Esse fato, entretanto, não torna menos interessante observar as iniciativas recentes que apontam para o uso de alternativas, sobretudo, no comércio entre países.
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