Quando se fala na implementação da moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês), sempre se destaca o aprimoramento da eficiência dos pagamentos entre instituições financeiras, no caso do modelo de atacado, e desta como alternativa ao dinheiro físico, na sua variação de varejo, com vistas a ampliar a inclusão financeira da população.
Entretanto, a transição para uma economia mais verde e a segurança cibernética também são preocupações importantes para os muitos envolvidos no desenvolvimento de plataformas de CBDC.
É para o que chama a atenção Koji Fusa, CEO da GVE, plataforma especializada na digitalização de moeda, em um artigo publicado pelo OMFIF (Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), ao tratar de questões técnicas relacionadas à introdução de CBDCs e suas implicações políticas e econômicas.
Tais prioridades ganham ainda mais relevância à medida que as moedas digitais de bancos centrais vêm conquistando espaço nas agendas econômicas em escala global, onde em torno de 90% dos bancos centrais estão inseridos em alguma etapa entre o planejamento e o lançamento de uma versão digital das moedas oficiais de seus respectivos países, segundo pesquisa do Banco de Compensações Internacionais (BIS).
Por que a inclusão financeira pauta o desenvolvimento das CBDCs?
De acordo com Fusa, apesar de várias famílias poderem acessar alguma forma de pagamento digital, ainda existem 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo que não possuem contas bancárias.
Sem conta bancária e, consequentemente, sem histórico de pagamentos, afirma, o crédito para essa parcela da população não é garantido e esses indivíduos podem ser impactados pelo pagamento de altas taxas de juros.
Dessa forma, as plataformas que conseguem contemplar os três tipos de instituições financeiras envolvidas em CBDC de atacado e varejo, ou seja, bancos centrais, bancos comerciais e instituições financeiras não bancárias, são capazes de fornecer liquidação bruta em tempo real para todos os usuários.
Nesse sentido, já há hoje no mercado plataformas CBDCs com capacidade para fazer mais de 5 trilhões de transações anualmente, o que é suficiente para cobrir oito bilhões de clientes individuais e 300 milhões de clientes corporativos em todo o mundo.
Ademais, além do objetivo de inclusão financeira, há de se considerar a perspectiva de redução de custos de pagamentos, especialmente os internacionais.
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A questão do esverdeamento da economia e a proteção dos dados e à privacidade
Já no que diz respeito à transição verde, o executivo se fundamenta em dados do Banco Mundial a fim de justificar a questão como uma das prioridades das plataformas de CBDC ao lado da inclusão financeira.
Fazendo uso das palavras de Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, ele lembra que os bancos centrais gastam, atualmente, entre 0,5% e 1,5% de seu produto interno bruto todos os anos na impressão, garantia e distribuição de dinheiro.
Nesse contexto, para transportar esse dinheiro às agências bancárias e caixas eletrônicos, mais de 100 mil veículos blindados são usados pelos bancos.
Assim, os novos sistemas digitais, como as CBDCs buscam eliminar o consumo de combustível e as emissões de dióxido de carbono desses carros, passo fundamental em direção ao esverdeamento da economia.
Por fim, ele acrescenta que outra consideração importante para as plataformas de CBDC é a segurança cibernética, com o intuito de conferir proteção e privacidade às transações financeiras e entidades envolvidas.
Aliás, assim como a inclusão financeira, esta tem sido uma das principais preocupações na maioria dos países onde as moedas digitais de banco centrais vêm sendo estudadas, segundo pesquisa de mercado do OMFIF.
Isto porque, explica Fusa, a infraestrutura de chave pública, um método de criptografia usado na maioria das áreas bancárias, está se tornando cada vez mais vulnerável, à medida que a tecnologia de computação quântica avança.
Dessa forma, ele argumenta que, a fim de deter cibercriminosos e pessoas mal-intencionadas, se faz necessário o desenvolvimento de plataformas de segurança cibernética para o gerenciamento de um amplo volume de chaves, como solução para serviços financeiros que exigem alto nível de salvaguarda de privacidade sob regulamentação de dados.
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