Coinbase: nova fase para o mercado de criptomoedas?

A oferta de ações da corretora de criptomoedas agitou investidores no Brasil e no mundo. Regulada e com foco em usabilidade, a Coinbase representa um futuro mais popular para o mercado de criptomoedas.
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Instituto Propague
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A Coinbase foi a primeira corretora de criptomoedas a abrir capital na bolsa de valores, com a listagem pública de ações na Nasdaq, em Nova Iorque, em 14 de abril.

Com 56 milhões de usuários, a Coinbase é a maior corretora de criptomoedas e criptoativos nos Estados Unidos, e está presente em mais de 100 países, inclusive o Brasil.

O papel de uma corretora, ou exchange, de criptomoedas é fazer o câmbio entre as criptomoedas e as moedas oficiais de cada país (a exemplo do real, o euro e o dólar) e fazer a intermediação de compra e venda de criptoativos.

Com a missão de tornar o mercado de criptoativos acessível para o grande público, o sucesso da Coinbase em Wall Street marca uma nova etapa das criptomoedas em direção ao mercado financeiro convencional, embora o futuro dos criptoativos ainda seja incerto.

As criptomoedas são moedas digitais privadas criadas em redes descentralizadas de computadores e protegidas por criptografia. O Bitcoin foi a primeira criptomoeda criada e até hoje é a principal no mercado.

criptoativos é um termo guarda-chuva para criptomoedas e outras representações digitais de valores ou direitos contratuais que são armazenados e comercializados eletronicamente por redes descentralizadas do tipo blockchain.

No dia do lançamento das ações, a corretora atingiu uma capitalização que ultrapassou os US$ 100 bilhões. A euforia em torno da Coinbase foi acompanhada de valorização recorde das principais criptomoedas, inclusive o bitcoin.

O mercado de criptomoedas como um todo bateu uma capitalização (valor das moedas multiplicado pela quantidade circulante) de US$ 2,25 trilhões. Contudo, o preço das moedas digitais descentralizadas foi rapidamente “corrigido” – termo para redução do valor de um ativo quando o mercado identifica uma valorização excessiva.

O lançamento de ações da Coinbase na Nasdaq movimentou os investidores brasileiros. A Coinbase foi a ação mais negociada por brasileiros em Wall Street pela corretora internacional Stake, segundo informações do Estadão.

Nos dias que antecederam a listagem, outra corretora, a Avenue Securities, teve um número recorde de abertura de contas, segundo informou o CEO Roberto Lee ao Neofeed. “Nos primeiros cinco minutos de negociações, enviamos seis mil ordens de Coinbase”, afirmou.

A aposta da Coinbase em usabilidade e volume de usuários

O movimento pelas criptomoedas surgiu como um desafio às autoridades centrais do sistema financeiro internacional após a crise de 2008. No entanto, a Coinbase foi fundada em 2012 com o objetivo de aproximar o grande público das criptomoedas, mantendo uma relação saudável com reguladores e investindo em usabilidade. A Coinbase foi a primeira corretora de criptomoedas a ser regulada pelas autoridades financeiras dos Estados Unidos, em 2015.

Com a abertura de capital, espera-se que o mercado cripto facilitado pela corretora ganhe impulso. Afinal, em 16 de abril, dois dias após a listagem na bolsa, o app da corretora se tornou o mais baixado na App Store da Apple nos Estados Unidos.

Otimistas esperam que esse movimento seja forte o suficiente para que o crescimento de usuários no mercado de criptoativos atinja uma massa crítica, trazendo mais liquidez para o sistema e ampliando as possibilidades de serviços que podem ser ofertados. Afinal, quanto mais pessoas estão interessadas em negociar criptomoedas de um lado, maior a chance de sucesso do outro.

| Confira o podcast: Stablecoins: solução cripto para pagamentos digitais mais eficientes

Coinbase Wallet e cripto-cartões: pagamentos com criptomoedas

A expansão da base de usuários também fortalece o negócio secundário da corretora: criptopagamentos. Do lado dos consumidores, a expansão do uso de carteiras digitais observada mundialmente aproxima a experiência de uso com as carteiras de criptomoedas. E, embora as criptomoedas sejam principalmente ativos especulativos para investimento, os pagamentos ampliam a funcionalidade das moedas virtuais e podem trazer valor para um número maior de usuários.

A carteira digital da Coinbase é a origem de 15% de todos os pagamentos processados pelo BitPay, um dos principais provedores de serviços de pagamentos com criptomoedas do mundo. Além disso, mais de 8 mil empresas estão credenciadas para receber pagamentos em criptomoedas pelo sistema da Coinbase de usuários em qualquer lugar do mundo.

Seguindo a aposta na usabilidade das criptomoedas, a corretora também oferece aos clientes cartões de débito em uma parceria com a Visa. Com esses cripto-cartões (ou cryptocards), os clientes da Coinbase podem pagar por produtos e serviços em toda a rede de comerciantes que aceitam a bandeira internacional. A carteira digital automaticamente converte o saldo em criptomoedas para dólares.

Obstáculos para popularização das criptomoedas como meios de pagamento

Algumas características inerentes às criptomoedas podem dificultar sua popularização como meio de pagamento. A primeira é a alta volatilidade, que dificulta o cálculo de valores de produtos e serviços em bitcoin ou outra criptomoeda.

Segundo, ao contrário dos pagamentos com cartões de crédito, o pagamento com criptomoedas não permite o estorno ou chargeback. Ou seja, não existe um mecanismo que proteja consumidores caso exista um indício de fraude ou erro na transação, ou caso o produto vendido não seja entregue. Na sua página, a Coinbase orienta os clientes a tratarem diretamente com os comerciantes para obter reembolsos.

Além disso, enquanto a possibilidade de usar as criptomoedas como meio de pagamento com certeza adiciona valor, cabe questionar se os pagamentos com criptomoedas realmente trazem para os consumidores alguma conveniência em comparação com os pagamentos por cartão ou carteiras digitais difundidos hoje.

Big Techs de pagamentos digitais: a estratégia da Paypal

A sinergia entre meios de pagamento e o mercado criptos é uma tendência que vem sendo explorada tanto no Brasil quanto no exterior, e vai além da Coinbase Wallet.

Em 2020, o serviço internacional de pagamentos online Paypal liberou a função de pagamentos com bitcoin para todos os usuários nos Estados Unidos. Comparadas às corretoras que nasceram no mundo cripto, empresas como a Paypal têm duas vantagens fundamentais: confiança e o grande número de usuários alcançados com a atuação no mercado de pagamentos.

Em uma entrevista à Time Magazine, o CEO da Paypal afirmou que foi surpreendido pelo interesse dos usuários. “A demanda por criptomoedas tem sido múltiplas vezes maior em relação ao que esperávamos inicialmente. Há muita empolgação”, disse.

Agora, a empresa também incluiu suporte para compra e venda de quatro criptomoedas na sua carteira digital Venmo: bitcoin (BTC), litecoin (LTC), bitcoin cash (BTH) e ethereum (ETH). A Venmo é uma “rede social de pagamentos” e conta com cerca de 70 milhões de usuários nos EUA, que utilizam o app para transferir dinheiro para amigos, familiares e comerciantes.

O que poderia ser uma competição acirrada, se tornou uma parceria de peso. Em 29 de abril, Paypal e Coinbase anunciaram a integração entre as suas carteiras digitais. Com isso, qualquer pessoa com uma conta junto à Paypal nos EUA poderá comprar critpomoedas no app da corretora.

Sucesso da Coinbase sinaliza abertura ao mercado de criptomoedas

Existe uma desconfiança do setor financeiro em relação às criptomoedas por conta da alta volatilidade dos ativos, da falta de respaldo institucional por trás da emissão das moedas virtuais e da insegurança jurídica de transacionar ativos não regulados na maior parte dos países – além da associação do bitcoin com o financiamento de atividades ilegais na Silk Road – um mercado negro na deep web.

Mais recentemente, à medida que investidores institucionais se aventuram no mercado de criptoativos, o impacto ambiental da mineração (processo computacional para emissão das criptomoedas) tem sido levantado como um inconveniente para a agenda de finanças sustentáveis.

Por isso, a resposta positiva do mercado “convencional” à oferta de ações da Coinbase na bolsa de valores é vista como um marco na superação da desconfiança e aproximação entre o mundo descentralizado dos criptoativos e as finanças tradicionais.

| Leia também: Debate sobre regulamentação de criptomoedas aumenta com a valorização do Bitcoin

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